sábado, 5 de março de 2011

A medalha

A Medalha

Quando menino, ganhei uma medalha na escola como prêmio ao aluno que sabia
ler melhor.
Senti-me feliz e estufei de orgulho. Quando a aula terminou voltei para casa
correndo entrei na cozinha como um furacão.
A velha empregada, que estava conosco havia muitos anos, ocupava-se no
fogão. Sem nada comentar fui direto a ela, dizendo-lhe:
- Aposto que sei ler melhor do que você.
E estendi-lhe o meu livro de leitura. Ela interrompeu o seu trabalho e tomou
o volume.
Examinando cuidadosamente as páginas, terminou por gaguejar:
- Bem, meu filho...eu...eu não sei ler.
Fiquei atônito. Sabia que papai estava em seu escritório àquela hora e voei
para lá. Ele ergueu a cabeça quando eu entrei, suando, com o rosto em fogo e
lhe disse:
- Imagine, papai, a Maria não sabe ler. E é uma velha. Eu, que ainda sou
pequeno, já ganhei até medalha. Olhe só! (Eu estufei o peito para frente
para que ele visse o meu troféu, e comentei):
- Deve ser horrível não saber ler, não é, papai?
Com toda a tranqüilidade, meu pai ergueu-se, foi até uma estante e voltou de
lá com um livro.
- Leia este livro para eu ver, meu filho. Foi maravilhoso você ter ganho a
medalha. Leia para eu ouvir.
Não titubeei, abri o volume e olhei para o meu pai cheio de surpresa. As
páginas continham o que pareciam ser centenas de pequenos rabiscos.
- Não posso, papai. Eu não entendo nada disto que está aqui.
- É um livro escrito em chinês, meu filho ...
Imediatamente me lembrei do que fizera a Maria e me senti envergonhado.
Papai não disse mais nada e eu, pensativo, deixei o livro em sua
escrivaninha e saí.
Até agora, toda vez que me sinto tentado a gabar-me por qualquer coisa que
tenha feito, lembro-me do quanto ainda me falta aprender e digo de mim para
comigo:
- Não se esqueça de que você não sabe ler chinês!

Nenhum comentário:

Postar um comentário