quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A harpa mágica

A HARPA MÁGICA

 Em um venerado mosteiro conservava-se uma harpa mágica, da qual, segundo
 os           antigos oráculos, brotaria uma melodia maravilhosa no dia
 em que fosse           dedilhada por um artista capaz de tocá-la
 devidamente.

 Atraídos pelo oráculo e com a esperança de se tornar famosos, muitos iam
 ao           santuário, garantiam que eram grandes harpistas e pediam
 para que lhes           deixassem tentar tocar a harpa mágica.

 Mas todos fracassavam, do instrumento           só saíam os mais
 desagradáveis ruídos.

 Tanto os monges que viviam no mosteiro como todo o povo do lugar já
 haviam           perdido as esperanças de que pudesse aparecer alguém
 capaz de tocar aquele           instrumento misterioso quando, um dia,
 apresentou-se ali um humilde homem.

 Era um desconhecido, e ninguém imaginava que chegaria a conseguir aquilo
 que tantos músicos célebres haviam fracassado.

 Quando o homem começou a dedilhar o instrumento com delicadeza, como se
 estivesse acariciando as cordas com os dedos, tinha-se a sensação de que
 a           harpa e o harpista haviam sido fundidos em um único ser.

 Durante bastante tempo, que a todos lhes pareceu como um segundo,
 ouviram uma melodia com a qual sequer poderiam ter sonhado.

 Por fim, o homem acabou de tocar e devolveu com grande reverência a
 harpa           aos monges, estes maravilhados, perguntaram-lhe como
 conseguira tocar aquela música com um instrumento do qual os mais
 famosos músicos não haviam sido capazes de tirar sequer uma nota
 afinada.

 Então o homem respondeu com grande humildade: todos os que me precederam
 na tentativa chegaram com o propósito de usar a harpa para se
 envaidecer.

 Eu, apenas me submeti inteiramente a ela e emprestei-lhe meus dedos,
 para que           não fosse eu a lhe impor minha música, mas que ela
 pudesse cantar tudo o           que leva dentro de si.

 Então, a madeira da harpa, que havia sido uma árvore centenária vibrou
 para cantar o ritmo do sol e da lua, os resplendores da aurora e do
 acaso, a força do vento, o rumor da chuva, o silêncio das nevadas, o
 calor do verão e o frio do inverno, a ilusão de tantas primaveras e a
 tristeza do outono; em suma a história da própria natureza.

 E um instrumento maravilhoso que não pode ser tocado por aqueles que
 estão           cheios de si mesmos, é preciso esvaziar-se diante da
 harpa para deixar que ela           mesma toque a sua melodia.

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