segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A lição do peixe

    A LIÇÃO DO PEIXE
António Torrado escreveu e Cristina Malaquias ilustrou

Num colégio de órfãos de antigamente, para onde iam os meninos que a família não podia sustentar, passava-se muita miséria.
Miséria é modo de dizer... fomenica,
larica, galga e outros nomes que a fome tem, mas que não disfarçam a penúria nem aconchegam o estômago.
As refeições, na enorme cantina enregelada, eram um fazer sofrer e um fazer de conta. Só o regente do colégio - o prefeito
-, à cabeceira da mesa, comia a seu gosto.
Dizia ele que era por ser grande, grosso e grave e que os pequenos, por serem pequenos, não precisavam de comer tanto. Mentiras.
Desculpas.
Num almoço, puseram em cada prato dos pensionistas um peixinho de nada com a pouca companhia de uma concha de arroz.
Um dos órfãos, em vez de lançar o garfo faminto à refeição, encostou a boca à borda do prato e pôs-se a falar baixinho,
como quem reza. Os colegas estranharam e,
lá do fundo, o prefeito quis saber o porquê daquela extravagância.
- Estou a conversar com o peixe, senhor - esclareceu o mocinho. - Como o meu pai, que era pescador, morreu no mar, estou
a perguntar-lhe se ele chegou a conhecê-lo.
- E que te respondeu ele? - indagou o prefeito, divertido, entre duas garfadas.
- Respondeu-me que não se lembra, porque é muito pequenino, mas que talvez o peixe grande, que está no prato do senhor prefeito,
saiba dar-me alguma notícia.
Parece que a partir deste caso os meninos do orfanato passaram a ter ração melhorada. Vejam o que um peixe pequenino pode
ensinar aos grandes.

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