quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A história dos brinquedos

A história dos brinquedos

O Cavalinho era o brinquedo mais antigo daquele quarto de crianças. Era tão velho, que seu pêlo castanho mostrava muitas falhas, aparecendo a costura debaixo, e
a maior parte dos pêlos de sua longa cauda haviam sido arrancados para se fazerem
colarzinhos de contas. Ele era bastante experiente, pois já vira inúmeros brinquedos automáticos chegarem ali cheios de orgulho e arrogância, mas que, com o passar
do tempo, quebravam as cordas e "morriam". Ele sabia que todos
não passavam de meros brinquedos e que nunca passariam disso. Pois a magia do quarto de brinquedos é estranha e maravilhosa, e somente aqueles que já eram velhos
e sábios e experientes como o Cavalinho a compreendiam bem.
O que é ser de verdade? Indagou o Coelhinho certo dia quando estava ao lado do Cavalinho, perto da lareira, antes de a ama vir arrumar o quarto. É ter dentro da
gente uma coisinha que
faz um zumbido e uma chavinha de dar corda? Ser "de verdade" não tem nada a ver com a maneira como somos feitos, respondeu o Cavalinho. é uma coisa que nos acontece.
Quando uma criança nos ama durante um longo
tempo, isto é, não apenas gosta de brincar conosco, mas nos ama realmente,
então passamos aa ser de "verdade". E isso dói? Perguntou o Coelhinho. Às vezes dói, disse o Cavalinho, pois não gostava de esconder a verdade. Mas, quando somos
"de verdade", não nos importamos muito com a dor.
E acontece de uma vez só, como quando nos dão corda, ou é pouco a pouco? Quis saber ele.
Não, é de uma vez só, explicou o Cavalinho. A gente vai se transformando, leva muito tempo. É por isso que aqueles que quebram facilmente, ou têm arestas cortantes,
ou têm que ser manejadas com cuidado, não podem passar por
esse processo. De um modo geral, quando afinal nos tornamos "de verdade", nosso pêlo já foi arrancado pelos carinhos, os olhos já caíram, estamos com as juntas
soltas e muito surrados. Mas nada disso tem importância, porque depois que somos "de
verdade" não somos mais feitos, a não ser para as pessoas que não entendem essas coisas".

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